Hoje estava estudando pra seleção do Mestrado, como tenho feito há vários dias.
Estou lendo "O sentido dos sentidos - educação (do) sensível" de João Francisco Duarte Jr.
Foi um prazer ler, na página 182-183, o que transcorro a vocês abaixo.
"[...] Portanto, a consciência dessa necessidade de uma educação do sensível, tal como manifesta pelas reflexões de Schiller, advém-nos, ao menos filosoficamente, desde o setecentos, passando em seguida pelo pensamento de Herbart que, em 1804, publicou o seu trabalho intitulado Sobre a revelação estética do mundo como a principal obra da educação, para desembocar, por fim, nas páginas de Herbert Read, trazidas à luz em 1943 sob o título Educação através da Arte. Nelas, Read propõe, como já comentado em parágrafos introdutórios, que a educação do sensível deveria se dar por meio da arte e do fazer artístico, desde a mais tenra idade. Acreditava ele que o contato com obras de arte e a constante prática artística levada a efeito por crianças e adolescentes haveriam de lhe proporcionar, segundo citado anteriormente, uma "educação desses sentidos sobre os quais se fundam a consciência e, em última instância, a inteligência e o juízo do indivíduo humano." Ou seja: ao propor uma educação estética ele estava, sim, pensando em termos bastante amplos, estésicos mesmo; buscava, com suas palavras, estabelecer uma educação da sensibilidade que estivesse fundada no desenvolvimento desses cinco sentidos pelos quais nos conectamos à realidade. Assim, a arte foi apontada por Read como instrumento ideal para essa educação, na medida em que ela é capaz de configurar uma dimensão do conhecimento passível de estabelecer pontes entre esse saber sensível (direto e primeiro) proporcionado por nossos órgãos dos sentidos e a abstrativa capacidade simbólica do ser humano. Soa quase redundante, pois, afirmar-se nunca ter sido sua intenção postular que a educação através da arte devesse formar artistas, e nem ao menos críticos ou teóricos do fenômeno estético, desenvoltos em sua capacidade de encadear reflexões acerca de estilos, escolas e tendências, ou de discorrer sobre a história da arte. À luz de uma leitura acurada, seus escritos revelam, isto sim, uma preocupação bem maior com o sentir do que com o refletir, bem maior com a estesia do que com o estetismo, ainda que ali tais conceitos não sejam empregados de maneira explícita.
Todavia, o que se vem notando é que essa proposta de uma educação através da arte, denominação mais tarde condensada como arte-educação, acabou por se transformar naquilo que atualmente se nomeia ensino da arte. Em que pese um um contrariar dos ensinamentos do educador Paulo Freire, que há muito nos alertou sobre a prepotência contida no verbo ensinar quando empregado em certos contextos, já que somos todos, mestres e aprendizes, educandos numa mesma situação, este ensino de arte tal como praticado nas escolas brasileiras atuais vem se pautando muito mais pela transmissão de conhecimentos formais e reflexivos acerca da arte do que se preocupando com uma real educação da sensibilidade. O mesmo vício de origem (moderna), que privilegia o conceito, o discurso, o argumentar sobre um objeto, em detrimento do fazer, do sentir, do experienciar, vício esse que, servindo também de espinha dorsal à maioria dos cursos superiores de arte, parece, assim, ter tomado conta de nossos arte-educadores, os quais alicerçam a maior parte de seu trabalho em "explicações" acerca da arte e interpretações de obras famosas [...]"
(DUARTE Jr., João Francisco. O sentido dos sentidos - a educação (do) sensível. 4ª Ed. Criar Edições: Curitiba, 2001 - p. 182-183)
Estou lendo "O sentido dos sentidos - educação (do) sensível" de João Francisco Duarte Jr.
Foi um prazer ler, na página 182-183, o que transcorro a vocês abaixo.
"[...] Portanto, a consciência dessa necessidade de uma educação do sensível, tal como manifesta pelas reflexões de Schiller, advém-nos, ao menos filosoficamente, desde o setecentos, passando em seguida pelo pensamento de Herbart que, em 1804, publicou o seu trabalho intitulado Sobre a revelação estética do mundo como a principal obra da educação, para desembocar, por fim, nas páginas de Herbert Read, trazidas à luz em 1943 sob o título Educação através da Arte. Nelas, Read propõe, como já comentado em parágrafos introdutórios, que a educação do sensível deveria se dar por meio da arte e do fazer artístico, desde a mais tenra idade. Acreditava ele que o contato com obras de arte e a constante prática artística levada a efeito por crianças e adolescentes haveriam de lhe proporcionar, segundo citado anteriormente, uma "educação desses sentidos sobre os quais se fundam a consciência e, em última instância, a inteligência e o juízo do indivíduo humano." Ou seja: ao propor uma educação estética ele estava, sim, pensando em termos bastante amplos, estésicos mesmo; buscava, com suas palavras, estabelecer uma educação da sensibilidade que estivesse fundada no desenvolvimento desses cinco sentidos pelos quais nos conectamos à realidade. Assim, a arte foi apontada por Read como instrumento ideal para essa educação, na medida em que ela é capaz de configurar uma dimensão do conhecimento passível de estabelecer pontes entre esse saber sensível (direto e primeiro) proporcionado por nossos órgãos dos sentidos e a abstrativa capacidade simbólica do ser humano. Soa quase redundante, pois, afirmar-se nunca ter sido sua intenção postular que a educação através da arte devesse formar artistas, e nem ao menos críticos ou teóricos do fenômeno estético, desenvoltos em sua capacidade de encadear reflexões acerca de estilos, escolas e tendências, ou de discorrer sobre a história da arte. À luz de uma leitura acurada, seus escritos revelam, isto sim, uma preocupação bem maior com o sentir do que com o refletir, bem maior com a estesia do que com o estetismo, ainda que ali tais conceitos não sejam empregados de maneira explícita.
Todavia, o que se vem notando é que essa proposta de uma educação através da arte, denominação mais tarde condensada como arte-educação, acabou por se transformar naquilo que atualmente se nomeia ensino da arte. Em que pese um um contrariar dos ensinamentos do educador Paulo Freire, que há muito nos alertou sobre a prepotência contida no verbo ensinar quando empregado em certos contextos, já que somos todos, mestres e aprendizes, educandos numa mesma situação, este ensino de arte tal como praticado nas escolas brasileiras atuais vem se pautando muito mais pela transmissão de conhecimentos formais e reflexivos acerca da arte do que se preocupando com uma real educação da sensibilidade. O mesmo vício de origem (moderna), que privilegia o conceito, o discurso, o argumentar sobre um objeto, em detrimento do fazer, do sentir, do experienciar, vício esse que, servindo também de espinha dorsal à maioria dos cursos superiores de arte, parece, assim, ter tomado conta de nossos arte-educadores, os quais alicerçam a maior parte de seu trabalho em "explicações" acerca da arte e interpretações de obras famosas [...]"
(DUARTE Jr., João Francisco. O sentido dos sentidos - a educação (do) sensível. 4ª Ed. Criar Edições: Curitiba, 2001 - p. 182-183)
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